ESPAÇO ABERTO - Liberdade religiosa


Estamos numa civilização de respeito à liberdade de todos. Então, não queiramos retroceder, tornando-nos ditadores!
 
No artigo ''A UEL e as denominações religiosas'' (Espaço Aberto, 27/12), do professor Marco Antonio Neves Soares, logo no cabeçalho encontrei esta afirmação que é o resumo da tese que se quer defender: ''A interdição dos serviços religiosos é um avanço democrático, pois força a Universidade a ver-se como multirreligiosa, a reconhecer e defender a diversidade de visão do mundo''. Discordo. É completamente o contrário. A interdição do serviço religioso na Universidade Estadual de Londrina (UEL) não é um avanço democrático e não a torna de maneira alguma multirreligiosa.
É, sim, um retrocesso democrático e um abuso de poder contra a liberdade religiosa. Gostaria de lembrar simplesmente duas verdades evidentes. 
Primeira, a pessoa humana é corpo e espírito ou razão.
Uma unidade inseparável. O espírito dirige o corpo e a sua atividade. O Estado, que existe para o bem comum de cada um e de todos os seus cidadãos, não pode de maneira nenhuma cultivar uns aspectos da pessoa e descurar outros. Deve cultivar a pessoa toda. É sua competência e dever proporcionar o bem-estar material, oferecendo, diretamente, o conhecimento científico que serve para o desenvolvimento econômico e, indiretamente, por meio de instituições competentes, o desenvolvimento espiritual para a realização da pessoa. De modo que, assim como favorece o aprendizado científico, deve favorecer também o aprendizado comportamental. Sem ele o conhecimento científico pode realizar não o bem, mas o mal comum, como está acontecendo, criando uma sociedade sofrida, injustiçada, violentada de todas as maneiras.

Segunda, a Universidade - que surgiu como escola mais de formação comportamental e de verdadeiros valores - não pode proibir que, dentro do seu espaço, se possa cultivar esse aspecto fundamental do viver humano, procurando aprofundar e manifestar a própria fé. A proibição seria justificada se a atividade religiosa ferisse a Constituição que, para ser legítima, por sua vez, deve respeitar a lei natural da pessoa humana. 

Quanto aos símbolos religiosos, que se pede para eliminar dos locais públicos, lembremos que eles expressam a fé da maioria absoluta do nosso povo e constituem as raízes da nossa civilização. Eliminando-os, seria como cortar a raiz de uma árvore frondosa e frutífera, onde no lugar de enriquecê-la com enxertos, para que dê frutos melhores e mais abundantes, prefere-se suprimi-la.
Estamos numa civilização de respeito à liberdade de todos. Então, não queiramos retroceder, tornando-nos ditadores! 

O Papa Bento XVI, no dia mundial da paz, dirigiu a toda a humanidade uma mensagem com o título ''Liberdade religiosa, caminho para paz''. Nela diz: ''Hoje existem duas tendências opostas, dois extremos, ambos negativos: de um lado, o laicismo, que, de forma enganadora, marginaliza a religião, colocando-a na esfera privada; do outro lado, o fundamentalismo, que gostaria de impô-la a todos com a força''.
No entanto,''onde a liberdade religiosa é reconhecida, a dignidade da pessoa humana é respeitada em sua raiz e através de uma sincera busca da verdade e do bem, fortalece-se a consciência moral e se reforçam as instituições e a convivência civil''.
''Por isso, a liberdade religiosa é o caminho privilegiado para construir a paz. Esta não se obtém com as armas, nem com o poder econômico, político, cultural e midiático'', ela ''é obra de consciências que se abrem à verdade e ao amor''. 

ANTONIO CALICIOTTI é padre voluntário da Pastoral Universitária de Londrina

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